11/20/2007

Lá do fundo da gaveta vêm as teias, mas já sem as aranhas...



Há alguns anos...
Pedra dos Tempos




Tempo!
“Nessa chuva de desafetos, dissolvem-se belezas, e as vãs alegrias, pois o belo por essência é em pedra esculpido, não em barro moldado!” – Não sei de quem. Meu? Não sei mesmo!


Um hippie disse assim:


“A essência perfuma a flor
pois as aparências
perdem-se
com a chuva
do tempo...”


E me vendeu um incenso de rosas selvagens.


Daí eu:


Numa noite sem medos
joguei uma pedra na vidraça...
Quebrei meu reflexo!
E ainda refletia...
Mil de mim, em mil partes dela
Mostrei quem era mais duro...
Intacto, eu mudei o mundo!
...

10/25/2007

Escravos da convenção



Quase inevitável tempestade

A enxurrada o arrasta, o contamina, surge de súbito um tronco flutuante e o derruba.
Desgovernado.
Levanta.
Caminha nessa enxurrada. Essas chuvas... Mas desta vez está longe demais de outro alguém, seu braço não o alcança, sozinho...
Pensa em desistir, mas sua história grita. Mantém-se firme. Difícil desistência.
Mãos cortadas. Aquele aglomerado de cacos, galhos, lixo, sujeira, água opaca. Tudo vindo desabando.
Um suco urbano.
Muito trágico.
Desligou a TV.
Sua dose diária estava suficiente. Mas foi realmente atingido pelos troncos, aranhado pelos invisíveis galhos da corrente de água escura.
Angustiado.
Pensou na morte. Depressão de se viver num mundo tão ingrato.
Divisões e interesses. O poder disfarçado. Declarado.
O discurso aberto da arrogância.
Estava realmente mal nesse dia. Nenhuma nuvem poderia ser tão escura.
Obscuro.
Visões multidão solitária caminha.
Aglomerados de pernas em fila.
E vultos vãos vagam pelo velho mundo. Vazios.
E o Novo, plácido; a decadência, o passado em ruínas; o próprio presente.
Vazios em fila. Lentos.

Mas não pense que ele foi sempre assim.
Se tivesse locado um lançamento na Blockbuster, visto o doce final feliz, estaria alegre e crente.
Quase satisfeito.




Algo aconteceu na minha cidade nesses dias.
Política, crime, tráfico, chuvas.
Chuvas?
Mas eu sou brasileiro.
Já esqueci.

8/13/2007

Dentre elas, entre delas...

Gênero poesia

O Teatro Invertido, a Poesia Inventada

Mais que outra arte cinética, mais que outra arte talhada

O ator tem seu momento
Apenas instante
que toma para si
só para si
interminável andamento

O poeta é eternizado
sem seu momento
Eterno
no universo perpetuado

Enquanto palco iluminado
aplaudido
em vaias
estiver acalorado:
Ator protegido

Poesia escura
quarto abandonado
estômago dolorido
coração cem partes
sem luz, frio:
Poeta legitimado

Estarão sempre
por todo segundo
em plena luz da arte
Preservados

Mas se o papel invertido
ator abandonado
poeta aplaudido
será então o homem
público, coitado
para sempre partido
mais que isso
condenado
a vagar na superfície insegura
dos que não são
dos que não foram
serão presos amarrados

Quando de papéis trocados
de volta ao início
para sempre partidos
sem arte
só ofício
do trabalho o artifício
Eis a arte, o ato, destruídos.


Alex Wild diz:
- vai e corre em seu cérebro! 13/08/07

7/06/2007

Quando em Roma...

Gênero fragmento

Até que vire a esquina 
fragmento do discurso sobre o convívio amoroso e solitário

Uma certa vez, ah! e que vez linda foi essa, a menina do meu coração chegou perto de mim, ficamos próximos um certo tempo... Que breve momento, a mais efêmera eternidade que se pode provar...
Mas como já sabemos que tudo é passageiro, inclusive nossas alegrias, dizemos principalmente nossas alegrias, pois as delícias são menos duradouras que o sabor do amargo, mesmo que tenham durações idênticas, o amargo fica na lembrança da língua... Bem, outra certa vez a menina do meu coração foi embora. Como é grande o vazio do que nos escapa, calor intenso e breve seguido de inverno lendo, silencioso, às vezes uivante. Expectável na medida inversa de sua saída, sem expectativas de término.

Terminou o inverno, a menina do meu coração voltou, senti que para ficar...
Ficou sim, um tempo, mas foi embora, e mesmo o inverno sendo rigoroso este ano, sabia que ele teria fim, era cortante, mas era também cicatrizável. Assim seguiu um período de verões e invernos, de chegadas e saídas da habitante do meu coração...

Até que um dia o inverno não terminou mais... Fiquei sem madeira para a fogueira, nesse momento minha companheira expectativa tornou-se a espera e esta a angústia, uma surpreendente sensação de esquina, em que alguém pode aparecer de súbito, e nunca aparece... Um olhar para a esquina, um barulho, uma folha, um automóvel, um olhar para a esquina, um devaneio qualquer, susto e sensação de que será agora! Passos, uma pessoa. É agora! Olho para a esquina.

É qualquer pessoa...

Fiquei amigo das geleiras que eram essas sensações, convivíamos de maneira calorosa, é claro, mesmo elas merecem ser bem tratadas, pois sendo eu irônico, não poderia deixar de tratá-las de modo diferente de todas outras pessoas, que tratam mal suas solidões, para que tais hóspedes, se sentindo mal recebidos, não pensem em voltar...

Eu fazia o oposto, amigável com minha solidão, angústia e espera, fiz com que elas gostassem de mim, e embora sempre voltassem, não vinham para me maltratar, se vingar por algum dia terem sido mal recebidas no hotel da minha vida, elas vinham para dizer um oi, e na maioria das vezes, acabavam ficando, mas dormíamos em quartos separados...

O que é o melhor de tudo isso, é que eu posso receber avisos de quando minhas malignas hóspedes vão chegar, reservo salas especiais, deixo-as bem à vontade, assim, somente assim, podemos conviver amigavelmente, elas acabam por me ensinar sempre, algo sobre mim... É bom surpreender-se consigo mesmo.

Menina, até que você vire aquela esquina, vou ter com minhas três pupilas; da solidão que me apresenta sempre a mim mesmo, da espera que faz questão de me lembrar você, e da angústia que me faz saber que, é dessa tempestade inquieta e que não se pode esperar nada, que eu gosto... Até que você vire a esquina e eu veja as três sorrirem para mim, no momento em que saem sem bater a porta, mas deixam-na aberta...
Até que você vire a esquina, e surge sob a luz e brilhe meus olhos, até que você vire a esquina novamente... Avisando minhas hóspedes pra voltarem...
Até que vire a esquina...








Alex Wild 22 de junho de 2007
Meio dia e quarenta e cinco

6/12/2007

Só mais uma de espelhos...

Gênero conto

O Esfregar de Espelhos
O refletir da reflexão – uma questão de olhar

Mark desta vez tomava banho quente e o chuveiro funcionava como dizia no manual de instruções, o que era raro. E com a bucha azul se esfregou tirando a sujeira do final de semana que, para ele, havia sido bizarro. Ruim não. Bizarro. Bom e Bizarro.
Desta vez ele estava calmo desde o início. No dia anterior ao ontem, ele limpara o espelho do banheiro, conseguia enxergar-se maravilhosamente bem. Seu reflexo ainda era leve, sua expectativa de vida longa. Pleno em si. Mas isso foi no dia anterior ao ontem. Agora era outra hora.

Mark pensou nos gregos antigos que não tinham energia elétrica, não podiam tomar um longo banho quente, não conheciam o cinema, nunca foram a uma rave, teve pena deles, mas lembrou-se que tinham bom gosto, lembrou-se de seu fantástico e imenso litoral recortado, das esculturas, templos, filosofias, teatros, mitologias, democracias, belezas, rythons e forças, das suas livres festas bacantes, mas realmente não conheciam os refrigeradores, os hambúrgueres dos fast foods, a televisão, o rádio, computador, internet, a música pop, as vidas virtuais, as facilidades ao toque dos dedos, os reality shows...

Feliz.

Em surpresa e voz alta! - Não é dos gregos que devo ter pena.
Um fluxo invertido de pensamento subiu à cabeça. Não quis se olhar no espelho nos próximos minutos. Estava envergonhado.

Continuou embaixo das quentes gotas, que o massageavam e construíam a ponte para o deslizar de seu pensamento, que agora, de longe de longe tivera que retornar...

Algo lhe chamou a atenção, nada havia se movido além do que sempre se move em um banho quente.

Limpou muito bem o espelho, agora via seu reflexo que em minutos se embaçava, por causa do vapor da água quente do banho em chocante contraste com o vidro mais fresco.

Mark sentiu-se vitorioso, conseguiu deixar o espelho livre do vapor de água, como se não estivesse perto da cachoeira quente do seu banho; grande façanha... mas havia algo de estranho nisso. Não era natural. Uma mudança horrível, uma atmosfera tão insuportável quanto o estar trancado em cômodo estreito sendo claustrófobo, um estado de corpo, mente e sentidos de estar em frente de leão. Inevitável descontrole, pequeno inseto hipnotizado pelo olhar do escorpião...

Pelo medo.

Viu seu reflexo, e este tinha movimentos próprios, e assim, assustado, não reagiu, algo mágico estava acontecendo e ele não estava só. A imagem refletida olhou dentro dos olhos de Mark e lhe disse:
- Tenho um recado para você garoto, aceita?
Mark sugeriu um sim com a cabeça ou com o pensamento, afinal, seu reflexo sabia tão de si quanto dele mesmo. Ou tanto de si mesmo quanto dele. Eram pessoa e seu reflexo, não eram?

Duvidou disso.

E continuou o límpido e autoconfiante reflexo:
- Não perca o seu tempo aqui, jovem, caso contrário você nunca mais o achará! É inútil.
- No espelho? – não disse, só pensou. Refletir-se sem reflexão. Aquele não sou eu. Nunca foi. Eu estou do lado de cá. Reflexão sem refletir-se.
- Jovem eu? E você? A voz ainda não saiu. - Há quanto tempo você esteve ai, sem que eu o visse? Há quanto tempo não enxergo quantas coisas?

Cérebro e culpa, pesos e dúvidas, tudo desabando. Avalanche de fichas caindo. Quis pegar mil fichas ao mesmo tempo, falhou...

Cai sobre si mesmo.

- Há quanto tempo só me vejo, sem me enxergar?
Ingênuo se questionava, ainda perplexo, mais pela novidade do que pelo sobrenatural conversar com o ser do espelho.

A imagem voltara a copiar os movimentos de Mark, como qualquer outro reflexo gentil, e agora, desesperado pela aparição e sumiço repentino, querendo-o de volta, esfregou tanto o espelho que este perdeu todo seu brilho, e não refletia mais, deixara de ser espelho, era agora vidro morto...

Mas Mark conseguiu enxergar-se através dele...
Disse em firme voz para seus ouvidos:
- Estou do lado de cá.

Desta vez a voz saiu.


Alex Wild 04 de junho de 2007
após um banho quente e tranqüilo

6/10/2007

A expectativa é melhor do que a festa

Gênedo assim do nada

Daí eu estava escrevendo um texto sobre os espelhos... parei!
Comecei a escrever outro sobre o Mark, que odiava tomar banho no frio, patentes, e ser impedito ou proibido de dizer algo. Terminei em partes, voltei ao espelho.

Deu preguiça. Mas ele será o máximo, e enquanto eu o mantiver em chama acesa, será lindo, mesmo ainda que seja apenas expectativa...


.

6/01/2007

"Sou o recitante apenas do começo, o final desta história, assim como minha própria morte, pertence aos outros..."

Gênero poesia


Eu que morri por você
Persistência da Memória e o Distanciamento Amoroso

Eu que morri por você
Não sabia sequer ficar atento
Perdido entre algo novo
Acreditei no sentir
No fazer
Do sentimento o verdadeiro
Na ponte mágica
Entre um e outro

Eu que amei você
Não sabia o que pensar
Entre as ofertas de viver
e viver o você
Entregou-me e sufocou a verdade
Ou esta sufocou
me e te
Ou a criança pulou do precipício
sem agüentar mais a vertigem
Estancou-se o ar

Eu que não vi você
Deixei passar querendo te ver
Estava ali
Olhei e não via
Virei enquanto você passava
Destinos avessos?
Ou querer desejar?
A morte do querer

Eu que morri por você
Não te vejo mais
Por estar morto
Por ter te matado
Não sou mais que um assassino
Sou apenas o criador de um novo começo
O amor que disse seu nome
E foi embora
Mas quem vai embora, também fica
E quem fica, também diz adeus.

Amei você
Entre outras, morri
Agora que te vejo, assim de perto
Não parece aquilo que era
Você se transformou
Foi o passar do tempo?
ou a persistência da memória?


Alex Wild - 21 de maio de 2007 - fragmentos

5/29/2007

A Esfinge

Sem Gênero

A natureza misteriosa da sua pergunta devora a si mesma!
Como vou saber, não tive só vc como mulher, não posso dar a resposta pois nao decifrei este enigma... Quem é vc?

5/25/2007

O amor é maravilhoso... não tenho a menor idéia do que isso significa!


Gênero poesia - 2004
Se perderes...

Desde que minhas asas não se quebrem em suas mãos
Desde que minhas palavras não se calem em sua presença
Desde que o começo não seja apenas o final de uma expectativa...

Posso ser seu anjo e te cuidar
Posso ser seu poeta e te cantar pelos ares
Posso ser Seu e Meu, mas desde que
Somente desde que...

Se perderes a força e a coragem
Se ânimo te abandonar nas decisões
Se o desespero tomar-te por inteiro e toda parte

Estarei pronto a caminhar lado a lado
A recolher suas lágrimas e olhar ambos caminhos
A guiar-te e a gritar quando sua voz ameaçar faltar...

Mas desde que minhas asas estejam leves
Minhas palavras sempre soltas
Desde que tudo não seja apenas pelo momento...

E se for, que haja verdade
Desde que não me castre o sonho
A esperança, e o amor...

Desde que não partas ao meio as asas
Estarei a cuidar e a perdoar
Desde que, somente desde que...



Alex Wild pode ligar a música que está dentro de você.
Alex brinca, te provoca, e sabe exatamente o que fazer para você corar...
Ele te leva para casa, te joga como seus dados, te expõe, ele é furioso...
As pessoas dizem que ele é um espião, mas ele é só um menino!
29/11/2004

5/22/2007

Quem pode guardar um segredo? - Esfinge

Gênero poesia

O Segredo
A arte secreta de contar um segredo

Eu tenho um segredo
Não posso dizer qual é
Entre as palavras ele pode deslizar
Entre olhares, escancarar-se
Sem se entregar
Sem perceber-se
Ou a alma é atenta
Ou está perdida:
Flutuante em toda espécie de cacos
troncos e migalhas.

Eu tenho um segredo
Eu posso dizer qual é
Ele está dito em minhas palavras
Antes de dizê-las
Ele está estampado no olhar
No ar que sai da minha boca
Entre uma palavra e outra

Eu disse um segredo
Entre os ares e as artes
Estampado
Dito por dizer
Sem saber que era um segredo
Não foi visto
Passou por ai
Não foi notado
Não era assim tão grande
Molecular
Atômico demais
Fragmentado
Talvez imenso, mas disforme
E atômico demais
Pode explodir
Ou...
Ou o que se queria, era a sensação da descoberta
E não do segredo...



Alex Wild 21 de maio de 2007
Todo começo vêm do fim de outro começo

5/16/2007

"A novidade é o máximo! Um paradoxo estendido na areia..."

Abro minha antiga nova porta e eis que encontro,
sobre o chão de sempre; O Novo...

Não sei de mais nada, não sei quem, não sei como... seria um vento que entrou por alguma fresta que deixei aberta?

Uma luz, uma sombra?
Uma idéia que deixei acordada durante uma noite inteira?
Uma carta mágica, uma poesia encantada invadindo minha casa, uma surpresa...

Tudo pode acontecer desde agora para frente...

...experimentando meu próprio doce...



Gênero poesia

Para Alex Wild, seus silêncios e seus espelhos
pra você, no seu próprio estilo...



Atordoada

Você é cínico e lindo
Sempre faz uma cena
É delirante, monocromático
Não é nada que você parece

Eu estou me afogando em sua vaidade
Seu riso é uma doença
Você é sujo... Você é doce
E sabe que é tudo pra mim

Tudo o que você é
Cai do céu... é estrela
Tudo o que você é
Sempre que, sempre que...

Eu quero chutar sua máquina
Jogar fora todos seus sonhos
Destruir suas defesas
até não sobrar nada
somente eu

Você é lindo quando está nervoso
Bravo por ser belo
Seu amor é tal brincadeira
Eu estou me afogando
em seu barulho atordoado

Quero o sentir do seu grito

Tudo o que você é
Quedas do céu como uma estrela
Tudo o que você é
Tudo que sempre você foi


Pós poesia:
Eu me entreguei secreta e delirante,
ao menino do olhar que penetra já de saida,
...sua personalidade encantadora
e ele nem sabe disso, sabe Alex?!

5/15/2007

Entre os espelhos quebrados...

Gênero poesia


Cante para Dormir

Estrelas perdidas numa noite prateada...
Bem longe, do outro lado!
Onde eu já não alcanço
Estrelas prateadas
Num céu já não meu

Uma silhueta, seis vezes, e uma sombra
Uma sombra na esquina
Era minha
Era eu na esquina que me olhava
Triste
Entorpecido
Onde eu estava?

De porta em porta
Fantasmas
luzes da cidade
- Fique comigo!
Eu dizia:
- Fique comigo...
Mas eu não respondia!
Virei as costas
Fui embora
Partido
embora
perdido

GRITO: - Uma só noite pode enlouquecer uma mente sã...
...

Era um menino
Quem estava parado
Ali mesmo, parado
Por que não andava
se estavam esperando
por este menino?

Uns diziam que ele não se mexia
Por medo de machucar o mundo
Mas ele nem era grande
Digo, não parecia!

Até que eu o encontre este outro
“Que nas mãos Deus guarde sua alma”
Ou que tenha as estrelas
Em sua palma
Mas que não fique assim, tão solto!

GRITO MAIS ALTO: - As paixões reduzem todo o mundo!..

...

Ele estava tão assustado
Tão amedrontado
Ele poderia fazer tudo
Mas não ouvia
Não andava
Não esperava
Era sombra
Era só um menino
Escondido numa roupa tão boba
Até quando...
Até quando?


Alex Wild está em busca de três coisas,
por isso ele está de volta entre nós!
23/12/2004

5/06/2007

Tem até jornalismo...

Matéria

Encerrada a Virada Cultural de São Paulo,
agora é a vez de Araçatuba

Alex Wild
São Paulo

São Paulo viveu, nos últimos 5 e 6 de maio, uma maratona cultural de 24 horas com atrações de todos os gêneros; música, teatro, circo, cinema, dança, literatura, visitas a museus, exposições e festas, fechando pelo terceiro ano a Virada Cultural paulistana.

O evento demonstrou a amplitude artística da maior cidade brasileira. Centralizado em cinco pontos, distribuídos por todas as regiões da capital, São Paulo ouviu a voz de Moraes Moreira, que declarou que “a Virada é um evento de paz”, Paulinho da Viola, Caubi Peixoto, Nação Zumbi, Pato Fu, Língua de Trapo, entre outros, e foi encerrado pela voz da cantora Zélia Duncan, que se apresentou às 18 horas no palco Boulevard São João.

Inspirada nas “Noites Brancas” européias, quando diversos acontecimentos culturais são realizados nas ruas das principais cidades, dentre elas Madri, Paris, Roma, a Virada Cultural está indo além este ano, pois o evento sai da capital do Estado e se dirige ao interior paulista. O evento acontece nos dias 19 e 20 de maio, duas semanas após a Virada Cultural na capital paulista.

Araçatuba é uma das 10 cidades que entram na programação. Realizado pelo Governo Estadual de São Paulo, Secretaria do Estado da Cultura em parceria com o SESC, e pela prefeitura de Araçatuba através da Secretaria da Cultura da cidade, o evento vem para fortalecer os espetáculos artísticos, incentivar a cultura e consolidar a cidade como pólo cultural da região. “As apresentações de Araçatuba se destacam por seu ecletismo e demonstram qualidade em seus shows”, afirma o Secretário da Cultura Alexandre Sônego de Carvalho.

Esse ano o evento ocorrerá em 10 cidades, mas a expectativa é ampliar para 21 no próximo ano.

A programação completa pode ser vista no site da prefeitura de Araçatuba, o endereço é http://www.aracatuba.sp.gov.br/.

5/03/2007

Breve comentário sobre teatro

Gênero crítica/opinião

Simples como o próprio fim!

Estávamos ali naquela sala fria!
O ambiente de aparência monocromática era tão estéril quanto a impassibilidade em pessoa! Éramos médicos que assistiam aquele final de homem. Final de uma existência. O que pensa um homem que está com os minutos contados?
A existência se extingue! E ela se extinguia ali na minha frente. Suspiro. E não foi nada suave. Foi de morte mesmo. Eu poderia ser esse homem que se extingue. Os breves minutos pareciam uma vida para aquele ser em despedida.
Suspanto, assim poderia ser chamado por Mário de Andrade, caso ele estivesse ali naquela sala gélida, ouvindo os talvez trágicos sons humanos, assistindo a nossa Cosmogonia.
O público se vestia com artefatos brancos. Máscaras, luvas, gorros, proteções para os pés. Tudo para não haver nenhum contágio. Assim começa a peça “Cosmogonia – experimento n° 1”, escrita por Rodolfo Vásquez e dirigida por Alberto Guzic.
Minutos antes do início do espetáculo, o clima já se transforma. O público começa a vestir os apetrechos médicos que são distribuídos na entrada do teatro para assistir (ou participar) as cenas que viriam a seguir, na “sala do hospital”. A platéia semi-rodeia os artistas. Ivam Cabral vive o cientista que desaparece para a existência. Cléo de Páris é a deusa que dialoga nos delírios ou na sobre-realidade em que se encontra o personagem principal da peça. O público faz parte da peça, pois está dentro do cenário. Nem é preciso dizer que é um espetáculo incomum. Com essas descrições, nem que tentassem não cairiam no óbvio. Nada é óbvio. Os questionamentos que aquela arte sugere, e algumas vezes explicita, são de natureza universal.
O texto é focado na Teogonia, de Hesíodo, o primeiro grande relato cosmogônico da cultura clássica grega. O cientista agonizante se encontra com duas divindades gregas, a Musa Belavoz e outra, a Moira Inflexível, esta responsável pela partida dos homens e dos deuses. O personagem de Ivam Cabral pede para que as musas expliquem a natureza do universo, seus pensamentos questionam os limites da ciência frente a vida e a morte.
Espetáculo de recursos muito criativos, um deles é que os espectadores, em alguns momentos, precisam puxar um pano branco com buracos onde colocam a cabeça, separando assim esta parte do resto do corpo, causando uma sensação de estar em outro plano, outro cosmo; mente separada do corpo.
O superficial é contagioso. Às vezes é preciso presenciar uma tragédia para sentir que há sangue pulsante dentro das veias. Eis o momento, Cosmogonia te coloca em uma!
Esta peça de Rodolfo Vásquez caminha longe daquele esquema começo-meio-fim, o desespero da vida já se inicia no estágio final. À beira da morte. As horas contadas. As agulhadas sonoras são constantes e arrepiam até se não fossem ouvidas, parecem entrar pelos poros. Luz, sons, olhares, brancura, frieza, morte, uma circulação natural cósmica, a cadeia alimentar universal a qual nenhuma criatura, nenhum homem já provou, e nem vai escapar!
Quem aqui não está com as horas contadas? Mas isso não importa, você é somente mais um a ser engolido...


Texto, cenário e direção: Rodolfo García Vázquez
Iluminação: Emerson Fernandes
Trilha Sonora: Ivam Cabral
Elenco: Ivam Cabral, Cléo De Páris, Eduardo Castanho e Eduardo Metring
Quando:Quinta e sexta às 21h30. R$ 20,00
Duração: 60 minutos
Recomendação: Impróprio para menores de 14 anos
Em cartaz por tempo indeterminado
http://www.satyros.com.br/
praça roosevelt, 214 CEP 01303-020 são paulo/sp - tel. (11) 3258 6345

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Quem sai da tragédia da vida deve se perguntar:
- O que realmente vale a pena ser vivido?

Algumas vezes se olha para o mundo e o que se vê são pessoas com suas aspirações desnecessárias. Todas elas querem tanto... Coisas tão complexas, sofisticadas, querem dinheiro, luxo, querem ser desejadas, serem regadas em abundância, tarjadas de nomes como Armani, Y.S.Laurent, Gucci, Coco Chanel, Calvin Klein. Tornadas poderosas por Olestra, Wistrol, Viagra... Essas pessoas querem ser a figura do outdoor, que em nada se parece com um homem (ou mulher) de verdade! Acreditam profundamente no slogan da L’evis dos anos 70: liberdade é usar um jeans L’evis! - será possível ser profundo na superficialidade?

Alex Wild
02/09/2005 1:49h da madrugada!

4/28/2007

Pensamento dos vinte anos...

Gênero Poesia
há tempos passados... enquanto um rio corre pelo vale!



Soneto Sobre Rosas
Dou-te beleza que não dura um dia
Vinho que em instantes evapora!
Se, de coração, meu intento é alegria,
Por que murcha pela vida ida embora?

Pra que flores se a cor não dura?
Por que tão bela se em breve enruguece?
Frescor: calor que a vida procura
Contínuo tempo, a seiva lhe esvaece...

Vejo em rosas meu amor parecido
De rubra cor em sentimento tornado
Pudera a Rosa ao Amor ter-se juntado?

Dou-te meu presente imortalizado!
Nunca as horas o terão consumido:
- O Amor fica após a flor ter-se ido!
Alex Wild 08/05/2001

3/30/2007

Desde sempre... pois o quando eu já perdi!

Gênero Poesia
escrita em 1997, quando morri criança


O Adeus Do Príncipe Dos Imortais !


Talvez a morte seja a única solução
Para um poeta vampiro
Que jaz sem vida.
Aproxima-se a Grande Porta
Da grande hora ,
do grande lugar
Onde a Divina Majestade
não poderá me aceitar !

Não há castigos...
Não há quem machucou...
As soluções são doces
Já que “o mal é um ponto-de-vista !''

Vou embora para muito distante,
onde as muralhas não me prendem,
onde as correntes são quebráveis
onde o Amor exista e seja Eterno !

Veloz Voraz Violentamente Voa Vida
Enfincando em meu peito, infinita estaca.
É tonteante, fulminante. É o golpe final !
Arrasto-me por sombras maquiavélicas
Caminho há milhares de anos,
Sem conseguir o presente
de uma alma errante
Que pela morte,
aspirante !

Precipito-me fantástico pela porta,
ao som de vozes discordantes.
Ficaria feliz se a cruzasse
Mas, impossível !

E o castigo, agora,
É juntar-me a uma imensa multidão
Que, ansiosamente, gargalha
Mas que nunca conseguirá sorrir...

Que angustiada sobrevive
Mas que nunca conhecerá o Viver...



AlexWild 10/10/97

3/21/2007

Para o bem e para o mal

Para evitar aqueles recadinhos pejorativos que em nada vêm a acrescentar, aqui vai:

Olhem as datas do que está escrito... as datas ditam, aliás, gritam os fatos, os momentos...

21/03/2007

3/20/2007

Caco de Vidro

Gênero Prosa Poética Poetizada


Hoje eu tirei o teclado para escrever sobre o amor, o velho, o surrado, e enjoado amor!

Todo natal eu me sinto triste como você. Mais abandonado talvez! E nesse não foi diferente! Mas os motivos foram.
Foram e se foram!
Foram como os heróis, como o John se foi, como a Teresa foi embora e até hoje não voltou; seu marido a espera desconsolado.
“Desconsolado”.
Será que foi nisso que pensei quando comecei a qualificar o amor logo na primeira linha? Desconsolado por quê?
Ego mal massageado? Será que com cara de bobo me perguntava, “cadê todos que me amavam?”


Bom, por falar em amor novamente, que ironia, ele se alto desvirtua. Foge de si mesmo, dificulta explicações simples, ou meras tentativas.
Aqui vai:
- Quero aquele sorriso de madrepérola constante e natural, ao meu lado, dentro de mim! Quero o cheiro das rosas das suas róseas maçãs que... que... OK, forget! Deixa eu mudar tudo! Sair desse ultra-romantismo e cair diretamente dentro do “carpe diem” do arcadismo luso brasileiro!

Venha comigo fugir
Não perca mais nenhum instante
Não permita a juventude...
Que te olhe distante,
que desfaça a pétala antes de abrir

Venha minha bela, venha minha estrela!
Venha ver a lua que solitária me acaricia,
Por detrás do vidro da minha janela!

- So, why don`t you slide into my room?!
- (Então desliza logo aqui para dentro do meu quarto!)


Vamos Evoluir na máquina do tempo deste papel!
Passado distante, como se diz em algum lugar do meu texto: os árcades já se FORAM!
Vamos nessa.

Modernismo:

Apresentando a peça:
O amor por detrás de um caco de vidro!

- Ou será o amor, um caco de vidro?!


Alex Wild
Indo Nessa
Dezembro 2002

3/09/2007

Do discurso da arte à ideologia do digestivo

Gênero Carta

Ainda tenho nas mãos a edição N° 02 da Revista “Entre Livros”, com uma imagem de Joyce segurando Ulisses. E desde o momento que a vi, senti que encontrei algo que procurava.

Numa época de consumo e culto à forma física, de avalanche de informações que sobrecarrega nosso discernimento, como a que vivemos hoje, é diminuta a proporção de atenção dada a qualquer tipo de arte. Ainda pior do que isto, outro fato está avesso; é chamada de arte toda e qualquer manifestação escultural, cênica, musical, e escrita que seja divulgada pelos veículos de comunicação, o que transtorna e distancia ainda mais as verdadeiras formas de arte, pois alienam sempre mais, e em muitos casos irreversivelmente, a população, impedindo-a de conhecer e ainda mais de produzir, o que ela é induzida a negar; a criação.

Na fase em que os jovens estão estudando no ensino fundamental e médio, quando eles poderiam/deveriam começar a desenvolver suas personalidades e gostos com mais ímpeto, eles são persuadidos a fazer e a saborear o que possui o gosto mais óbvio e a sensação mais imediata, sem que seja preciso pensar. A literatura é empurrada e entregue a eles como se fosse uma ferramenta para poderem conseguir uma vaga nas universidades, e somente isso. No entanto a brevidade da função do estudo dessa área é falsa.

São dadas como acontecimento literário mundial as escolas literárias brasileiras e portuguesas. Mas a maioria das inovações da arte (escrita inclusive) surgiu em outros países da Europa, não somente em Portugal, das outras Américas e da Ásia. Pouco é ensinado sobre o renascimento italiano e francês, que foram fortíssimos, tomando como exemplo o episódio da capela italiana Cistina, que foi repintada para esconder o nu da obra de Michelangelo, do simbolismo profundo de Baudelaire e de outros franceses, do ultra-romantismo alemão de Goethe e até da literatura filosófica de Voltaire, que é citado na disciplina “história” no período pré-revolução francesa, mas que nada se fala de seus escritos. É suprimido dos livros didáticos o espírito modernista e inovador francês que se projetou na arquitetura (Art nouveau), na pintura expressionista e numa fortíssima forma de arte, representada pelos cartazes publicitários que anunciavam revistas e peças de teatro, antecipando o “pub” das publicações de hoje.

A literatura é apresentada ao adolescente, que é o homem em sua fase mais eufórica, como uma chatice estática, levando-o a questionar os motivos de se estudar essa arte, pejorativa e indevidamente chamada de disciplina, fazendo-o crer, às vezes, estudar uma complicação mórbida e inútil.

A revista é um rumo a quem queira se aprofundar mais na literatura, um estímulo a quem queira conhecê-la e um incentivo a quem não acha vida nesta velha e profunda amiga.

É lindo ver colocada a literatura universal ao alcance de mais camadas da sociedade, através da visão panorâmica literária e da direção da leitura que dará rumos a quem queira começar ou continuar nesse universo.

Os artistas defendem a arte como a si mesmos. Já no âmbito da importância da literatura, o seu objetivo não é só entreter e fazer com que os seres humanos passem momentos agradáveis, perdidos na irrealidade, eximidos do inferno doméstico ou da ansiedade econômica, em espontânea indolência intelectual, as ficções da literatura não podem competir com as oferecidas pelas telas de cinema ou tevê. As conexões edificadas com a palavra exigem a participação ativa do leitor, um esforço mental, de sua imaginação e, às vezes, quando se trata da literatura moderna, exigem dificultosas operações de memória, associações e recriações, algo de que as imagens do cinema e da tevê prescindem os espectadores. E, por isso, os espectadores se tornam cada vez mais preguiçosos, mais alérgicos a qualquer que necessite de esforço do intelecto.

Em depoimento magnífico, o peruano Mário Vargas Llosa insiste no valor da literatura em comparação com outras atividades: "As ficções apresentadas nas telas são intensas por seu imediatismo e efêmeras por seus resultados. Prendem-nos e nos liberam quase de imediato. Das ficções literárias, nos tornamos prisioneiros da vida toda, porque o resultado de uma boa literatura é sempre posterior à leitura - um efeito deflagrado na memória e no tempo.".

O interessante é valorizar a arte, mas conhecê-la primeiramente, a torna ainda mais atraente.

Aqui no Brasil, até o início da década de 60, a leitura de obras literárias era considerada uma obrigação regular por parte de docentes e discentes, não havendo quem questionasse o sentido do ato de ler. O que deve ser lembrado, é que no Brasil, o livro exercia desde o século XIX diferentes funções, claro que para os grupos sociais privilegiados: era o lazer perfeito; era uma insubstituível fonte de conhecimento humano; era o reflexo do país, na qual a minúscula elite cultural se enxergava; era o modelo superior de correção das formas e elegância do idioma pátrio.

Nesta mesma década, houve uma grande universalização e democratização do ensino, que permitiu o acesso de outras classes ao saber, e não comente das privilegiadas. Estes novos personagens sociais, no entanto, vinham de um mundo sem livros e com fracas referências culturais. E antes que a tradição da leitura se enraizasse às suas existências, foram chamados para a poderosa indústria cultural que se implementava na mesma época. Tal indústria, focada na tevê e na música dos discos, conquistou imediatamente notáveis parcelas da população “recém-alfabetizada”. As necessidades de entretenimento e informações, foram recheadas por estes meios audiovisuais. E a leitura foi derrotada na batalha da audiência, transformando-se em espécie de atividade refinada de pequena parte cultural e saudosista da população.

Até as elites, acabaram deixando em partes o seu antigo parceiro, que lhes oferecia um céu de imagens e de visões universais, comercializando-o por uma sub-arte mastigada e facilitada, produzida pelos meios de comunicação de massa.

Para se desafogar, a literatura tornou-se dietética. Sem responsabilidades, roteirizada, e imbecil.


Desculpe pelo desabafo, acho que tudo o que disse vocês já sabiam, mas o que pretendia era elogiá-los e parabenizá-los, pois como eu disse no começo desta carta, com sua revista eu encontrei o que procurava, já que meu trabalho de conclusão de curso do passado foi uma revista chamada “Proscritos & Polêmicos”, sobre a arte maldita, tendo Oscar Wilde como escritor da edição número 0.


Grato pelo trabalho

3/08/2007

Lá do fundo da gaveta vêm as teias, mas já sem as aranhas...

Gênero Poesia
Pedra dos Tempos

Tempo!
Nessa chuva de desafetos,
Dissolvem-se belezas,
as vãs alegrias
pois o belo por essência
é em pedra esculpido
não em barro moldado!

“A essência perfuma a flor
pois as aparências
se perdem
com a chuva
do tempo...”

Numa noite sem medos
Joguei uma pedra na vidraça...
Quebrei meu reflexo!
E ainda refletia...
Mil de mim
em mil partes dela
(mostrei quem era mais duro...)
Intacto,
Eu mudei o mundo!


Alex Wild
26/10/2001

3/06/2007

O Deus e a Ninfa

Gênero Conto

Disse o deus em depoimento a si mesmo ao observar o passar do tempo:
- Agora mesmo escureci o dia lá fora.
Fechei os céus. Entristeci as nuvens. Mesmo o mirmidão mais valente e impetuoso hesitaria em sair por alguma porta.
- O fato de ser um deus me garante o direito de ser vingativo. Não estou conseguindo sê-lo. O que eu admiro nos homens é sua capacidade de regeneração. De mudar as coisas. Mudar suas idéias. Eles também se vingam, como nós mesmos fazemos. Neste sentido eu sou menos que um massificado humano. Não consigo me vingar.

Quanto a sofrer:
- O sofrimento lhes foi dado como presente constante e eles se apaixonam sempre, alguns deles nem isso conseguem. O deus do caminho do meio se enxerga sem discípulos nesses últimos milhares de anos.

Observando a mudança dos ventos:
- A noite vem chegando com inexorável força diária. Um golpe dado com muita força pode ser fatal contra quem ele é desferido. Mas como toda grande onda ou fria avalanche, pode também ser manipulado. Nós manipulamos. Os homens também manipulam. E ambos são enganados. A noite vem construindo a solidão dos angustiados. A noite é uma avalanche. Vou terminar este dia com uma escuridão vazia. Assim amanhã será completamente o amanhã. E lá poderei inventar novos caminhos, fechando velhas entradas e abrindo novas saídas.

Quanto à ousadia:
- Os deuses também são importunados. Ousada ninfa quem impede a minha construção da agonia. Eu devo ter sido enfeitiçado. Provoco grandes trovoadas para distrair minha atenção. Esse objetivo, que é a causa do escurecer dos dias, é parte de uma jogada apenas. Essa sutil e tão óbvia cartada é também irresistível. Ela me direciona seus lábios e profere palavras com suavidade, mas que é ouvida mais longe que os trovões. Esse é o tom do encantamento. Esse fascínio a que nem mesmo os deuses ou anjos estão protegidos, é grande causa de sofrimentos.

O escurecer do dia:
- Estou dando forças para o carrasco, mas quem pode enforcar um deus? Aquilo que protegi descaradamente, que me fez ser julgado por outros deuses e homens por proteger, irracionalmente e imparcialmente, uma ninfa, está a infantilizar meus relâmpagos, a sutilizar meus trovões. Quando abandonarei esta ninfa-estaca que se enfia no meu coração? Quanto mais eu a agarro, mais a prendo em mim, infinitamente ela me corrói, até escurecer minha visão.

Voz narrando:
Neste mesmo instante, escuta-se um ranger de portas. Passos se direcionam para o ambiente desse deus apático. É a ninfa a quem ele tanto buscou e protegeu. Ela não é tão alta. Não é tão séria. Não é tão rósea. Ela olhou o deus de frente, entregou-se a ele, o criador das tempestades. Ele com seus olhos divididos entre chuvas e lágrimas, seus lábios entre o beijo e o espanto, se enxergou como um homem, e como tal se jogou nos braços da ninfa.
Lá fora começou a se ouvir o cantar dos pássaros. O abrir das flores. A brisa quente entrava pelas frestas de todas as casas e nenhum sábio soube explicar o nascer do dia durante a escuridão da noite. Talvez fosse uma resposta ao escurecer da noite sobre a luz do dia... Os mirmidões souberam transformar a fraqueza da luz em força da sombra, entraram no castelo de seu inimigo, pela porta da frente. O dia veio intenso em seu calor devido à longa espera pelo fim das horas nebulosas.
Então ao alto das nuvens, agora claras como pétalas de lótus que saem sempre cândidas da lama, se reuniram, já cansados de suas próprias existências, outros deuses e criaturas divinas. Todos condenavam o que estavam assistindo. O mais moralista e católico dos homens não teria percebido que todos ali eram divindades, e teria se esquecido que estava acima das nuvens, de tão grande hipocrisia que o ambiente exalava.
Caído em cima de milhões de gotículas de água e vapores, que vistas de longe são parecidas com as nuvens, estava aquele deus entristecido, agarrado ao seu objeto de valor; uma grande rosa repleta de espinhos, e o maior e mais venenoso deles, enfincado em seu peito desprotegido, ambos sem vida; o deus e a rosa.

Alex Wild
Escrito em 2004
Amaral Gurgel - centro de São Paulo.

3/01/2007

Se você está com pressa e não consegue ler o conto abaixo, então não leia...

Mas saiba que as coisas você corre atrás acabam correndo atrás de você, e muito cuidado, elas podem te alcançar...

Darwin, Rousseau e Nietzsche

Gênero conto


Estava entrando no consultório da Dra. psiquiatra, mas antes disso...
Vinha num ônibus maldito de tão quente, infernal, suando e de saco cheio. Ainda tive que descer e andar mais umas quadras. Resolvi cruzar a rua no meio da quadra, onde não havia faixa de pedestres. Espertão. Quando cruzei, fiquei no meio do canteiro da Avenida Vergueiro sem poder atravessar (faz de conta que é essa mesmo porque eu sou perdido) pois havia uma cerca que impedia pedestres de cruzarem fora da faixa, evitando assim, acidentes. Resolvi pular a cerca. Claro que não pulei, não queria passar por cidadão deselegante, malandro que faz feio, sabe, aqueles que jogam lixo no chão? Então, não queria fazer isso. Ainda estava com receio de não conseguir e cair na frente de todos.

Então disfarcei.

Disfarcei por quê? Disfarcei porque imaginava alguém me observando. Isso, havia alguém me olhando. O cara da banca de jornal.

Antes de tentar cruzar, quando eu estava quase na avenida, perguntei a uma pessoa numa banca de jornal, “a rua Sampaio Viana, amigo”, ele disse, “que que tem?”, “o senhor sabe onde fica?”, “sei”, daí eu, entendendo o joguinho dele, falei; “então, o senhor pode falar onde é que fica a rua Sampaio Viana?”, ele me respondeu “claro que posso falar”, “então, onde fica a rua?”, “mediante um ‘bom dia, eu digo’”. Entendida a mensagem, ele me chamou de mal educado. Ok. “Bom dia, o senhor sabe onde fica a rua Sampaio Viana, por favor?”. “Três quadras pra lá você vai ver um semáforo, atravessa pela faixa, e você vai ver uma galeria, cruza por dentro e pronto, já vai sair nessa rua”.

Era esse cara da banca de jornal que me agora observava. Ele analisava cada erro que eu cometia, de não ter dito “bom dia”, de não ter atravessado na faixa. Então eu fingi, no meio da avenida, que estava procurando um número. Um número de residência ali? Mas ele sabia onde eu queria chegar. Será que este disfarce não deu certo? Daria, pois o cara da banca iria pensar que eu não acreditei na explicação dele, que não dei crédito para suas palavras gentis. Eu o atingiria desta forma. Nunca mais o cara da banca de jornal se meteria com alguém do meu tipo, tenho certeza disso. Ou será que ele não entendeu? Será que ele me chamou de idiota quando me viu disfarçando?

Dono da banca balançando a cabeça: idiota! Nossa! Que cara mais imbecil! - tudo em meu pensamento.

Daí eu cruzei rápido antes que ele me olhasse novamente. Quantas vezes ele me olhou? Uma, duas, três? Eu não consegui contar, aliás ele é tão bom nisso de observar que eu nem vi ele me olhando. O cara é especialista. Que perigo, um cara desses solto nas ruas. A polícia deveria pegar esse fascista. Perseguindo os outros assim. É horrível a sensação de ser observado, analisado e julgado, ainda mais à distância, sem poder se defender...

Atravessei a galeria depois de cruzar obrigatoriamente na faixa, para finalmente o outro lado da avenida.

Achei o consultório da Dra. Lagonegro.

Este nome me fez pensar em Guerra nas Estrelas. Lagonegro, Ladonegro.
Deixa pra lá.

Sala de espera quente. Mas infelizmente fui chamado logo. Infelizmente porque eu estava escrevendo tudo o que o calor do maldito ônibus me fez vivenciar e pensar. Acabei não conseguindo concluir naquele papelzinho bonito que a recepcionista havia me dado. Eu até que escrevia com letras legíveis mas foi curto o tempo. Escrevia sobre a tortura do ônibus e a nossa tortura existencial.
Seguinte, essa merda de destino que as pessoas falam, será que quem criou isso foi Darwin ou Rousseau?

Olha só, tem um babaca aí que falou que são suas escolhas que dizem quem você é. Frase utilizada (e adorada) por aqueles caras que fazem entrevista, psicólogos, empresários, sabidões... mas ela é perigosa. Ela esconde um falso ideal.
As escolhas que fazemos estão submetidas ao pensamento, e é este filho do cérebro, que é um órgão do corpo humano, que tem suas características definidas pela carga genética vinda de seus pais.


O ambiente em que você vive é determinado pela sua capacidade de gerar riquezas e cultura. Porque se você se encontra neste nível sócio-cultural é porque seu corpo e sua mente permitem que isso seja possível. Eles te dão capacidade, talvez até a ânsia, para fazê-lo.
O momento é você mesmo quem escolhe. Seu pensamento. Sem querer é você quem acaba se colocando em determinadas situações, são suas capacidades que te fazem estar em certos lugares em certos momentos.
Desse modo você estará sempre dentro dos seus limites e nunca sairá. Jamais conseguirá se superar. Pois se você realizou tal tarefa é porque tinha capacidade para isso. Não há superação, como se uma pessoa que soubesse suas características genéticas e estivesse te assistindo nunca fosse se surpreender com um ato ou conquista sua. Um boneco totalmente previsível. Será então que devemos lutar pra sermos o que já somos?
Para termos o que já é nosso? É como se tudo já tivesse sido escolhido.
Será que na verdade, seus pais definem quem você é e seus avós definiram quem seus pais são?

Bom, o fato é que não quero pensar assim, prefiro achar que sou livre, satisfeito e que vou ter sucesso e ter mais satisfação. E essa felicidade vai gerar sucesso e esse ciclo vicioso será infinito e eu serei um velhinho feliz. Que meus netinhos vão se orgulhar do velhinho e de meus grisalhos cabelos modernos. Um velhinho porreta ou doidão. Quanto sucesso!

É isso e pronto! Essa coisa de destino darwinista ou rousseauniano é um lixo.
Nem sei por que pensei nisso...

AQUI ENTRA OUTRO CONTO.
TALVEZ A DO EXISTENCIALISMO SOBRE A MESA.
“aqui termina a estória do existencialismo sobre a mesa”


Dias depois.

Aquela história de Darwin e Rousseau serviu pra alguma coisa.
Certa vez conheci uma menininha bonita, aspirante romântica a atriz. Cheia de grandes vontades e ideais.
Boca rosada, corpo a altura das aspirações.
Lolita.
E agora a reencontrei num desses testes de teatro, com um auditório cheio de jovens atores e estudantes esperando para a avaliação.
Esta menina disse que não sabia mais se seria atriz ou se partiria pra outra.
Pronto. Prato perfeito. É a deixa que o grande ator estava esperando:

ELA - Ai ai. Não sei se continuo, me decepcionei muito com este mundo... mundo vazio, fútil, pessoas interesseiras que só querem derrubar umas as outras, gente vaidosa que só vê a si mesma. Um dia elas se afogam!
EU - Eu acho que você deve escolher. Só você sabe o que seu coração diz. Boa sorte na vida. Suas escolhas de hoje dirão quem você é no futuro – Nossa, como eu sou hipócrita! Falei mal do cara e estou aqui repetindo seu discurso – em pensamento!
ELA - Ai que lindo! Espero que eu esteja acertando mesmo, dá um medinho, né?
EU - Sempre dá... mas parece que as escolhas que fazemos já estão feitas, antes de escolhermos, você sente isso?
ELA - Eu sinto! Eu acho que a nossa parte de escolha é bem pequenininha perto do caminho que já está traçado! Ai que medo!
EU - Parece mais mágico que isso... parece que já está tudo escrito e não podemos fazer nada, só lutar pra termos o que já é nosso! Louco, não é? – Eu me contradizendo!
ELA - É um jeito legal de encarar, não gosto de pensar que temos 50% de chance de dar errado, prefiro acreditar que algo quer que eu dê certo!
EU - Eu não penso nada, vou lá e faço, só quando paro pra pensar onde estou me levando é que tiro minhas conclusões... alguns desejos devem ser realizados... Talvez a culpa possa nem existir depois, pois certas atitudes devem ser tomadas sem serem pensadas, alguns prazeres só são possíveis se o lado racional não existir. Se entregar às tentações é a melhor maneira de acabar com elas, e você nunca se arrepende – encaminhando a conversa para um lado tendencioso.
Eu continuo - As tentações merecem ser experimentadas!

Percebendo a reflexão dela:

EU - Mais uma coisa, você tem cara e jeito de atriz, sabia? Não por fora, mas atriz por dentro, atriz de verdade, daquelas que fazem teatro e cinema, de personalidade. Que fazem as outras pessoas quererem fazer teatro, inspiradora! – tentando encaminhar para aquele assunto tendencioso.
ELA - Ah obrigada! Isso pra mim é um grande elogio! Eu também acho que por dentro eu sou atriz, mas nunca encontrei um lugar pra isso...
EU – Mas você encontrará... eu sofri muito na época em que era estudante de artes, até perceber que aquelas pessoas vazias são adultos com mente de crianças, pessoas cegas, bobas, inofensivas, que não chegam nem perto de mim... elas vão todas se afogar nas águas de seus reflexos...
ELA - É, eu queria ser igual você...mas não consigo...penso demais o tempo todo...

Risadas.

EU - Eu também penso muito. - Sorriso. - Melhor deixar pra lá...
ELA - Fala. O que você pensa?

Ela ainda sem malícia, pelo menos não como a minha.

EU - Eu penso, não nisso, penso que a vida é uma película bem fina! E tudo está sendo filmado agora!

ELA - Eu sempre vejo pessoas que são adultos com mente de criança! Mas não no sentido Pequeno Príncipe... – voltando ao assunto de cinco falas acima.

Ai que meiga!

EU - Entendo, é nesse mesmo que eu falo, povo totalmente dominado! Então resolvi não deixar nada me atingir... Só mergulhar no que faço... estudar eu já estudo. É só ser verdadeiro que você se torna autêntico, a assim já se destaca dos tolos... Comecei a me jogar em tudo, se eu sentisse vontade eu fazia. Atitudes libertadoras, de quem sabe o que quer! Não dava rédeas aos meus desejos...
Tentando encaminhar o assunto novamente... mas ela...
ELA - Dominado por quem?

Então, numa avalanche sem retomada de fôlego para acabar de vez com esse assunto e ir direto para o “outro”.
EU - Dominado por necessidades, dinheiro, poder, fama, aparecer, destaque, necessidade de aprovação, necessidade de parecerem pessoas felizes, eficientes e satisfeitas, o que na verdade não são... pessoas normais são raras... o normal é ser raro.
ELA – Hahaha! Nossa! Eu sei o que você quer dizer...

Mais avalanche.
EU – As pessoas são insatisfeitas, por isso, infelizes, e na verdade você encontra a felicidade junto com outras coisas, com a paz e com o amor, só assim, não há outra maneira.

Diminui a avalanche e agora é um delicado cair de neve.
EU - A satisfação está juntinha da felicidade e do amor, entende?
ELA – Acho que sim – quase entrando na minha.

Mudando subitamente.
ELA - Ai, muito louco isso!
Eu puto.
EU - O louco é aquele que não se encaixa no nosso modo de pensar e esse nosso pensamento coletivo fomos nós que criamos, não eu e você, mas pessoas que vieram antes de nós que são chamadas de normais. Quem disse que se os loucos tivessem criado um modo coletivo de pensar nós não seríamos os loucos?
ELA – Eu não sou louca!
EU – Eu sou!
ELA – Como assim?

Será que ela tem problema? Ou eu que não percebo algo de errado nisso tudo? Ela deve estar filmando isso, não é possível! Só me falta essa, vai mostrar para as amigas. E agora? Nunca mais consigo uma mulher. Não tem nenhuma câmera aqui. Ali... ali... O que é aquilo? Vulto. Droga, nunca quis usar óculos. Agora fudeu. Não é câmera não. Não pode ser. Pior que é mesmo. Fudeu.
Não, é um saco preto. É um saco! Fudeu. Tenho que dar um jeito de dispensar a lolita. Não vai rolar. Será que as pessoas que têm afinidades conosco é porque tem tendência a ter, ou será que se nos esforçarmos e dissermos o que elas querem ouvir conseguimos conquistá-las? Será que se meus mais são pessoas pacatas ou introspectivas eu nunca vou conseguir ser aquele cara famosão conquistador? Não posso conseguir ser um artista nem com a a exaustiva e excessiva capacidade de repetição? Nem que eu faça especialização nisso? Será que meu cérebro não muda mesmo?
A lolita adorou a conversa mas o celular dela tocou. Era o namorado. Brigaram. Ela me contou depois que ele é 16 anos mais velho. Que ele não gosta de teatro. Que é coisa de viado e de mulher safada. Que se ela fizesse aquele teste, pior ainda, se fosse continuar a levar pra frente “essa coisa de querer ser artista”, ele largaria dela.

Fizemos o teste, um de cada vez. Fui embora e nem sei dela.

AQUI ENTRA OUTRO CONTO.
TALVEZ A DA JANELA DO HOMEM QUE BUSCA O PERFEITO.
“aqui termina a estória do homem que...”


Dois meses depois encontrei a lolita:
EU - Oi, eu nunca mais te vi. Não tem ido mais nos testes?
ELA - Não. Eu descobri que não sirvo pra isso. As pessoas não são boas nesse mundo das artes. Elas querem abusar da gente e nos dominar.
EU - Entendo. – Pensei no namorado dela, será que ele também não quer abusar e pior ainda, já a dominou?
ELA - Estou mais feliz assim, vou ser aeromoça. – e um sorriso apático descoloriu seu rosto, sem me convencer de nada. Já não era mais aquela lolita que me atraiu. Ela quase estampava a marca da arroba na sua carne.

Será que seus genes já previam isso?

E eu ainda me orgulho.
Será quem realmente lida com monstros pode se tornar um?
Será que quem se torna monstro é por que já nasceu com genes propícios a sê-lo?

Humano demasiado humano!

fevereiro de 2007

1/06/2007

Inspiração

Quando se procura pelo divino suspiro e não o encontra, é que vc deve apelar para o braço.

Brainstorm escrito assim, tudo jundo, significa inspiração.
Quando separado, Brain Storm, já remete a outro significado, tempestade de idéias, ou seja, quando um grupo se reúne para discutir e colocar frente a frente idéias vindas de mentes diferentes... mas não é sobre isso que eu discorro.

A imagem abaixo significa inspiração e é por ela que procuramos, quando encontramos apenas o braço. Viva David Lynch, eu sou o braço!

Procure uma imagem, adicione-a a seu micro, clique ali no enviar imagem e siga as instruções, copie o código, cole dentro da ferramenta do blog... complicando...

Vai fazer um link? Fica pra amanhã...

Quer conhecer a Brainstorm production? clique aqui ou na imagem






Mas eu não pretendo dizer nada com isso!