9/02/2010

Time Traveller


- Dois carros já tinham disparado na frente enquanto eu nem sabia ainda como eu iria chegar até onde fui parar, tão deslizante, e encontrar um imenso divisor de avenidas. Não tinha ideia do tipo de ser vivo que iria esbarrar por aí, não imaginava mudar todas as coisas, roubar um ônibus cheio de gente em Cingapura, desencadear duas revoluções no Vietnã, arrumar briga com um estadista que acabou por me perdoar depois de eu ter dito uma mentira tão bem contada a ponto de ele quase cair no chão de tanto rir da situação, ali grudadinho na cordilheira do Tian Shan, depois de ser confundido com Ualid Saliba, um roqueiro famoso que nunca mostra a cara quando está no palco. Tudo foi ótimo. Nada poderia ter saído melhor.


Até quando me ferrei bonito e acabei sendo preso por 15 minutos por ser também confundido com um outro cara, um tal Ashra Lin, famoso terrorista de pele bem morena e traços físicos bem fortes, típicos de sua região, o que explica muito claramente o fato da confusão ter acontecido comigo. Quem me conhece sabe do que eu estou falando. A única coisa que eu arrebentei de verdade e com vontade foi uma janela de vidro usando o punho direito, de tanta raiva que eu senti de um argentino nanico, depois de ter defendido por uma vida inteira o fim da rixa entre brasileiros e argentinos. - É aqui que tudo é pago. O que você faz de bem, o que faz de mal, o que não faz e o que faz os outros fazerem... Aqui é que é pago. Sem pregão, colega! - minha mão ficou sangrando um tempão depois disso, foi delirante, insano. Recomendo!

Os dois carros já tinham zarpado fritando seus pneus de borracha e largando a fumaça e o cheiro que ela tem pra trás, eu ainda estava parado, mas acabei gastando tudo que tinha guardado para aquela viagem, daí começou outra jornada. - Como fazer para conseguir aquilo que eu já tinha conseguido? Fui estragar as coisas em uma enxurrada de desperdício - Pirei fazendo isso - eu faria tudo novamente, aliás, vou fazer assim que eu juntar um bolo bem grande de dinheiro, vou fazer uma fogueira imensa e torrar tudo, vai dar pra ver a luz das labaredas da minha fogueira da fortuna lá da lua e até da *&%#@$% que pariu vão ver e gritar olha lá o cara incendiando tudo, torrando duas fortunas, fumaceiro louco!. Vão berrar e apontar para a minha fumaça lá nas nuvens, vai animal!... Minha viagem nem havia começado, e eu já tinha partido. Pro lado errado, claro. Está indo pro lado errado, cara!, gritavam e gesticulavam com suas mãozinhas agitadas, vai pro outro lado!, - calor de um sonho sórdido! - mas eu não estava nem aí, continuei seguindo, depois de ter certeza absoluta, e ter escolhido minuciosa e inconscientemente, as emotivas razões que estavam me guiando...