6/12/2007

Só mais uma de espelhos...

Gênero conto

O Esfregar de Espelhos
O refletir da reflexão – uma questão de olhar

Mark desta vez tomava banho quente e o chuveiro funcionava como dizia no manual de instruções, o que era raro. E com a bucha azul se esfregou tirando a sujeira do final de semana que, para ele, havia sido bizarro. Ruim não. Bizarro. Bom e Bizarro.
Desta vez ele estava calmo desde o início. No dia anterior ao ontem, ele limpara o espelho do banheiro, conseguia enxergar-se maravilhosamente bem. Seu reflexo ainda era leve, sua expectativa de vida longa. Pleno em si. Mas isso foi no dia anterior ao ontem. Agora era outra hora.

Mark pensou nos gregos antigos que não tinham energia elétrica, não podiam tomar um longo banho quente, não conheciam o cinema, nunca foram a uma rave, teve pena deles, mas lembrou-se que tinham bom gosto, lembrou-se de seu fantástico e imenso litoral recortado, das esculturas, templos, filosofias, teatros, mitologias, democracias, belezas, rythons e forças, das suas livres festas bacantes, mas realmente não conheciam os refrigeradores, os hambúrgueres dos fast foods, a televisão, o rádio, computador, internet, a música pop, as vidas virtuais, as facilidades ao toque dos dedos, os reality shows...

Feliz.

Em surpresa e voz alta! - Não é dos gregos que devo ter pena.
Um fluxo invertido de pensamento subiu à cabeça. Não quis se olhar no espelho nos próximos minutos. Estava envergonhado.

Continuou embaixo das quentes gotas, que o massageavam e construíam a ponte para o deslizar de seu pensamento, que agora, de longe de longe tivera que retornar...

Algo lhe chamou a atenção, nada havia se movido além do que sempre se move em um banho quente.

Limpou muito bem o espelho, agora via seu reflexo que em minutos se embaçava, por causa do vapor da água quente do banho em chocante contraste com o vidro mais fresco.

Mark sentiu-se vitorioso, conseguiu deixar o espelho livre do vapor de água, como se não estivesse perto da cachoeira quente do seu banho; grande façanha... mas havia algo de estranho nisso. Não era natural. Uma mudança horrível, uma atmosfera tão insuportável quanto o estar trancado em cômodo estreito sendo claustrófobo, um estado de corpo, mente e sentidos de estar em frente de leão. Inevitável descontrole, pequeno inseto hipnotizado pelo olhar do escorpião...

Pelo medo.

Viu seu reflexo, e este tinha movimentos próprios, e assim, assustado, não reagiu, algo mágico estava acontecendo e ele não estava só. A imagem refletida olhou dentro dos olhos de Mark e lhe disse:
- Tenho um recado para você garoto, aceita?
Mark sugeriu um sim com a cabeça ou com o pensamento, afinal, seu reflexo sabia tão de si quanto dele mesmo. Ou tanto de si mesmo quanto dele. Eram pessoa e seu reflexo, não eram?

Duvidou disso.

E continuou o límpido e autoconfiante reflexo:
- Não perca o seu tempo aqui, jovem, caso contrário você nunca mais o achará! É inútil.
- No espelho? – não disse, só pensou. Refletir-se sem reflexão. Aquele não sou eu. Nunca foi. Eu estou do lado de cá. Reflexão sem refletir-se.
- Jovem eu? E você? A voz ainda não saiu. - Há quanto tempo você esteve ai, sem que eu o visse? Há quanto tempo não enxergo quantas coisas?

Cérebro e culpa, pesos e dúvidas, tudo desabando. Avalanche de fichas caindo. Quis pegar mil fichas ao mesmo tempo, falhou...

Cai sobre si mesmo.

- Há quanto tempo só me vejo, sem me enxergar?
Ingênuo se questionava, ainda perplexo, mais pela novidade do que pelo sobrenatural conversar com o ser do espelho.

A imagem voltara a copiar os movimentos de Mark, como qualquer outro reflexo gentil, e agora, desesperado pela aparição e sumiço repentino, querendo-o de volta, esfregou tanto o espelho que este perdeu todo seu brilho, e não refletia mais, deixara de ser espelho, era agora vidro morto...

Mas Mark conseguiu enxergar-se através dele...
Disse em firme voz para seus ouvidos:
- Estou do lado de cá.

Desta vez a voz saiu.


Alex Wild 04 de junho de 2007
após um banho quente e tranqüilo

6/10/2007

A expectativa é melhor do que a festa

Gênedo assim do nada

Daí eu estava escrevendo um texto sobre os espelhos... parei!
Comecei a escrever outro sobre o Mark, que odiava tomar banho no frio, patentes, e ser impedito ou proibido de dizer algo. Terminei em partes, voltei ao espelho.

Deu preguiça. Mas ele será o máximo, e enquanto eu o mantiver em chama acesa, será lindo, mesmo ainda que seja apenas expectativa...


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