10/25/2007

Escravos da convenção



Quase inevitável tempestade

A enxurrada o arrasta, o contamina, surge de súbito um tronco flutuante e o derruba.
Desgovernado.
Levanta.
Caminha nessa enxurrada. Essas chuvas... Mas desta vez está longe demais de outro alguém, seu braço não o alcança, sozinho...
Pensa em desistir, mas sua história grita. Mantém-se firme. Difícil desistência.
Mãos cortadas. Aquele aglomerado de cacos, galhos, lixo, sujeira, água opaca. Tudo vindo desabando.
Um suco urbano.
Muito trágico.
Desligou a TV.
Sua dose diária estava suficiente. Mas foi realmente atingido pelos troncos, aranhado pelos invisíveis galhos da corrente de água escura.
Angustiado.
Pensou na morte. Depressão de se viver num mundo tão ingrato.
Divisões e interesses. O poder disfarçado. Declarado.
O discurso aberto da arrogância.
Estava realmente mal nesse dia. Nenhuma nuvem poderia ser tão escura.
Obscuro.
Visões multidão solitária caminha.
Aglomerados de pernas em fila.
E vultos vãos vagam pelo velho mundo. Vazios.
E o Novo, plácido; a decadência, o passado em ruínas; o próprio presente.
Vazios em fila. Lentos.

Mas não pense que ele foi sempre assim.
Se tivesse locado um lançamento na Blockbuster, visto o doce final feliz, estaria alegre e crente.
Quase satisfeito.




Algo aconteceu na minha cidade nesses dias.
Política, crime, tráfico, chuvas.
Chuvas?
Mas eu sou brasileiro.
Já esqueci.