5/31/2006

Do papel que me leva...

- Choro por pouco.
Eu disse isso a quem havia me perguntado.
Choro é só choro. A lágrima é um líquido salgado.
Só isso.
Mas eu estou agarrado ao meu livro. A minha eterna companhia que eu sempre acreditei estar ao meu lado. Meu livro. Que me colocou entre os homens e que me faz erguer o rosto e olhar o mundo, ora com ar de enfrentamento, ora com ar cordial, como se dissesse: que boa companhia a sua!
Não vou parar de escrever para chorar... No meu visível transtorno, engulo minhas lágrimas com minha boca salivante porque quero toma-las por inteiro e alimentar minha alma... se o rolar de minha lágrima esvai o meu sofrimento, eu a engulo para explodir e poder ressuscitar.
Eu ouvia os passos dela do outro lado da linha. Passos altos para uma pessoa tão delicada. Passos firmes para uma garota que chora. Passos decididos. Não queria destruir um sonho, mas o valor da verdade é muito maior do que a efemeridade da ilusão. Ela me falou da surpresa ao ver as lágrimas dos outros. Lágrimas caídas por sua ausência. Lágrimas entre abraços, ela iria deixa-los. Eu acabei com o sonho dela por dizer toda a verdade.
- Esse sentimento todo do “grupo” por você é falso. Eles jogam seus próprios erros uns nos outros, já jogaram em você! Há uma hora, eu escutei da boca daquele que te abraçou chorando, que não quer “ouvir mais esse papo de humildade, que ator é vaidoso...”.
Continuei...
- Você vai sair por não ter a estrutura financeira que ele tem. O abraço dele foi um ato hipócrita que eu não suportei ver. Ele acredita ser o melhor dali, não sente a sua falta nem vai sentir, pois só pensa em si e repugna a humildade, que é o que você tem aí escorrendo dos seus olhos... ele confirmou todas as palavras da conselheira sobre a necessidade de generosidade no grupo, mas antes de ser generoso, o homem deve ser humilde, virtude que ele abomina! Paradoxo ou hipocrisia?
O leve choro dela deu espaço a um silencio, para depois iniciar um soluçar. Eu disse que as pessoas que a amavam estavam ali, ao seu lado. Para não se emocionar com o falso. A família dela é o que ela tem de verdadeiro. É isso. O sonho acabou, mas deu espaço para uma possível construção real. Ao reconhecer a futilidade, muita coisa perde o sentido, muitos filmes, livros, pessoas, muito se esvai de valor. Mas isso é recompensado quando algo de precioso é visto, e o raro só pode ser reconhecido por aquele que também reconhece o fútil.
Eu disse a verdade. Eu a salvei com a verdade.
O fundo do poço é onde estou e é de onde eu saio. O caminho é longo. Mas antes um longo caminho do que não ter lugar nenhum a percorrer.
O renascimento é constante.
Quem vai entender isso?
Cometi um erro.
Meu livro que me trouxe até aqui. Mas antes dele, havia e ainda há outra coisa.
Há pessoas.
Pessoas que entregaram ele a mim, ou melhor, que me entregaram ao livro... De quem muitas vezes eu estive, e ainda estou, distante, mas que nunca se distanciou de mim. Que me pegou com as duas mãos desde criança e que eu nunca fui grato!
Minha ingratidão é um monstro que devora voraz e impiedosamente.
Sinto que estou sendo polido nas palavras, pois minhas lágrimas diminuem seu ritmo.
- Cala a boca, que não errei a gramática!
Eu não posso mais ficar de costas! Não sei para onde ficar de costas! Já não sei onde estou nem para onde vou, pois nunca estive em lugar nenhum. Soluço de olhos fechados ainda escrevendo.
- Não sofra por pouco... alguns homens são só meninos tão frágeis que necessitam de atenção. Co
rações pobres. Mentes retraídas. Tropeçam nas próprias pernas e nem percebem. Culpam alguém.
Não ouço a minha voz porque o que é superficial tomou conta de mim e eu já estou cego e me culpo. Não sei mais o que dizer!
Só me culpo!

O livro me foi entregue, e o que eu entrego de volta àqueles que o me deram?
Eu estou morrendo por dentro sem saber o que fazer. Acabo de ser interrompido, não quero ajuda de ninguém!
Não quero idéia nenhuma entrando em meu pensamento. Não mais vou ficar calado. Ainda penso antes de agir, mas a verdade deve ser dita. A justiça deve ser feita. Clichês verdadeiros. Quem critica o clichê sabe criar alguma coisa?
Hoje eu vou dormir.
Odeio ser interrompido, acho interrupção egoísta!
- Não me exclua de seu sofrimento!
- O sofrimento é meu!
...
- O que eu disse foi covarde, mas foi o que senti. Por favor, me perdoe, pois eu te amo.

Não penso mais nada.

A euforia passou. Sobraram meus pedaços e eu nem sei onde eles estão nem o que fazer, se por acaso eu os encontrar. Mas não estou, nem me importo.
Vou fazer o que é verdadeiro. Voltar e acolher o que me acolhe. Fazer o que eu falei para fazerem, ao invés de ficar falando. Estar ao lado de quem está ao meu há anos.
Segurar as mãos daqueles que me seguraram quando eu nem sabia andar. Daquela menina que me falou uma certa vez quando eu sentia uma das maiores tristezas. A primeira tristeza. Ela me falou que estaria sempre comigo. Que não sabia usar as palavras como eu, mas que mesmo assim iria usá-las... humildade poderosa. Só nessa ela já me colocou no chão. Ainda tenho o bilhete guardado, mas nunca mais o abri. Acho que eu morreria se lesse aquilo agora. De uma forma ou de outra ela sabe disso, e se não souber, talvez nem precise, pois o que ela sente é incondicional.
Abraçar o menino tímido que me ajuda sempre... sempre... Aquele que foi ficando pequeno enquanto eu crescia, mas que é imenso. O menino tímido de caráter de herói. Acreditar também naquele super homem que agora sofre de um mal criado por ele mesmo. Meu pai, o que eu faço pra te ajudar? E aquela menininha que me deu a vida. Como eu posso te pegar no colo?
Ah! Se todos vocês soubessem...
Mas eu não sei como. De tudo que aprendi, não sei...
De toda minha inteligência elogiada, não sei...
Só sei que choro.... mas o choro é só choro.
Uma lágrima é só um liquido de sal.
E quem eu abraço, é apenas um pedaço de papel...



Alex é um menino em pedaços
Mas quem aqui não está em pedaços?
Quem não estiver,
é porque é pequeno demais para ser dividido...
Talvez ele não queira se juntar agora.
Ele chora, mas você nem sabe o porquê.



24/25 de maio de 2006