10/08/2008

Sonambulismo



Sem fúria é o estado. Nem cansaço. Quando nem novidade, nem saturado. Quando na medida exata, com equilíbrio anti-zen desalentador. O rio que corre tão liso e tem sua superfície fina como fio de navalha passa sem ser visto, não faz som, seu reflexo não oscila, não acalma, não atordoa. Não e nem nada.

O homem que se jogou do precipício por buscar algum movimento, mesmo que por breve instante ao fim da vida, está a cair até agora. O abismo não tinha fundo. Mergulhou em monotonia aerodinâmica. Está a cair. Às vezes ele pensa que não caiu no imenso buraco, de tão parada que é sua queda.

Diversos anjos estavam em uma árvore. Todos pendurados feito maçãs celestiais. Não peguei nenhuma e mordi. Passei indiferente e eles também estavam indiferentes. Maçãs discretas celestiais. Voltei pra casa contei a história, ninguém se assustou. Nem com os anjos dependurados, que é coisa rara hoje em dia, nem com minha indiferença em relação às maçãs angelicais. Desfuriosos. Todos discretos à mesa de jantar.

Seremos um fio finíssimo discreto a seguir dentro do rio das lâminas sem som sem cintilar?
Estaremos caindo com o homem do precipício?


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