9/18/2008

Anti-fluxo

...



Antes sol


O que é mais delicioso que atravessar uma avenida em uma faixa, seguir reto de carro, e ver ao seu redor todos aqueles carros ficando para trás, somente a sua fila andando fluentemente?

- Seguir no contra-fluxo?

Talvez arriscar ou fazer o proibido... mas o contra-fluxo ainda é delicioso.

Aquele lado vazio da avenida, e o outro abarrotado, congestionado como nariz gripado.
Avenida gripada de carros, motos, negros, brancos, loucos, brochas, bichas, repórteres, ambulâncias, policiais, mulheres, altos, médicos, gerais, índios, descendentes de alguém ou de outro, cafetões, viciados em remédios ou auto-ajuda.

Eu e meu lado sadio da avenida, deliciosos silenciosos.

Ah! que charme ter um carro antigo, ou uma moto daquelas retrôs. Mas desde que os outros tenham outros veículos bem modernos. Lisos brilhantes rápidos silenciosos discretos. Todos iguais. Ah! O meu carro antigo. Ah! Minha moto custom classic chopper. Uma Marylin Monroe nos dias de hoje, porque ser como esta popstar sendo contempoâneo a ela, era ser o fluxo.

- Olha lá! Olha quem passa daquele lado da avenida, abarrotado, de vidro fechado e parcialmente confortável ofuscado! Quase felizes! Aparentemente felizes! Ok! Felizes! Sem mágoas, tá?
 



Mas quem vai do contra-fluxo para o fluxo passa por uma trajetória dolorosa.

Os que andam no contra-fluxo da avenida têm ousadia e charme, conversa intrigante e engraçada, cheia de paradoxos, confusa e que faz você ficar pensando em algo e com um leve sorriso, depois de ouvir um pensamento em uma mesa de bar.
- Irônico, obrigado!

Mas a indústria do mercado do fluxo, quantas assessorias pra tudo!!!
Quem nunca conheceu a literatura que a deixe partir!


Mas quem vai ... trajetória dolorosa.

Leia tudo ou nada. Destrua o que não foi feito, mas não desconstrua a parede sólida e delicada criada com tijolinhos pequeninos e duríssimos.
Descem enxurradas de popularidades vulgares e superficiais.
Arrancam pedaços e aos despedaços vão descendo embalados e abarrotados pelo outro lado da avenida. Tudo quase tão simétrico.
Isso não seria de tal modo terrível... Se hoje eu não estivesse do lado de lá.

A roupa impermeável começa a ter infiltrações, escorrega pra dentro pelas mangas essa água louca. Tocam os tambores em silêncio. Escorre por todas linhas da minha capa essa água louca. Eu estou surdo.

Daí a descontrução das coisas,
o orgulho do anti-fluxo.
Dói a desconstrução das coisas.








Discorrendo sobre a inveja - Alex Wildner
18 de setembro de 2008

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